Beetlejuice, Beetlejuice…

   28/10/2024  |     Victória Lieberknecht

Não lembro quando foi a primeira vez que assisti “Os Fantasmas se Divertem” (1988), só sei que já assisti várias e várias vezes depois. Simplesmente fiquei encantada com a trama, os personagens, o mórbido, o estranho e, principalmente, a estética do filme. Quando anunciaram a sequência do filme “Os Fantasmas Ainda se Divertem”, fiquei empolgada, pois sabia que viria algo bom.

Seth Grahame-Smith, roteirista de “Sombras da Noite”, trabalhava no roteiro de “Os Fantasmas Ainda se Divertem” desde 2012 e, em maio de 2023, foram confirmadas as filmagens para o segundo filme da sequência. É incrível como, depois de 36 anos, Tim Burton conseguiu trazer de volta atores originais, Michael Keaton como Beetlejuice, Winona Ryder como Lydia Deetz, Catherine O’Hara como Delia Deetz e ainda acrescentando Jenna Ortega como Astrid Deetz, filha de Lydia, que recentemente havia trabalhado com Tim Burton interpretando Wandinha na série da Netflix.

“Os Fantasmas se Divertem” poderia ser um filme de romance normal, que passa na sessão da tarde, se os personagens principais não morressem nos primeiros 10 minutos de filme, o que o torna uma comédia satírica sobre a vida pós-morte. Como Burton mesmo diz, o filme é “uma versão burlesca de O Exorcista”.

Fotografia ilustrativa de Bárbara e Adam Maitland em Beetlejuice

Burton criou um visual único para o mundo dos mortos, com uma estética sombria, porém com jogos de luzes intensas que causam uma estranheza, que virou uma característica reconhecível do filme. E pela satisfação dos fãs, esses cenários foram recriados no novo filme e foram muito além: novos cenários expandiram o mundo pós-vida na memória dos espectadores.

Interessante comparar a relação de tempo entre os filmes: 36 anos se passaram entre a estreia dos filmes, mas diegéticamente (no mundo que se passa o filme) também se passou esse tempo. Tanto por preservar os mesmos atores, que envelheceram, quanto por continuar a conexão que os espectadores tinham com esses personagens. O adolescente que se identificou com a Lydia “estranha e incomum” do primeiro filme, agora cresceu e talvez possa se identificar com algum aspecto da Lydia adulta do novo filme. Aí também entra a personagem da filha da Lydia, na qual o público novo que assiste o filme pela primeira vez pode se identificar. Também é legal pontuar que o mundo do pós-vida se manteve atemporal, mantendo os cenários e as tecnologias que já mostrava o filme de 1988.

Falando em tempo, os dois filmes não deixam de falar sobre ciclos. O ciclo da vida: Lydia era uma adolescente sombria e depressiva que tinha problemas familiares (principalmente com a sua madrasta Delia). Já no novo filme, a sua filha Astrid faz esse papel de adolescente rebelde. E o “ciclo da morte”: no antigo filme, o mundo pós-vida é desencadeado com a morte principal dos Maitlands. Já neste, a morte do pai/avô Charles Deetz é o que reúne a família de volta à casa onde aconteceu todo o primeiro filme e a partir daí acontecem as coisas sinistras que os levam a reencontrar o mundo dos mortos.

Fotografia ilustrativa de Lydia em Beetlejuice

Além do fan service para o primeiro filme, trazendo várias referências visuais, da trama e detalhes em easter eggs que remetem ao primeiro filme, “Os Fantasmas Ainda se Divertem” faz referência a filmes e séries que passaram a fazer parte do repertório do público mais jovem, como “Stranger Things” e o filme “Halloween”. E, ao meu ver, a adição de um personagem detetive (Willem Dafoe) e uma femme fatale, ex-esposa de Beetlejuice que acorda com sede por vingança (Monica Bellucci), trouxe um tempero Noir para o filme, que serviu para adicionar sabor.

Seguindo a tradição do primeiro filme, o segundo traz uma diversidade de técnicas tradicionais usadas no cinema. Do cenário construído manualmente (sem uso de CG), maquiagens artísticas dos personagens grotescos, efeitos mecânicos como uso de maquetes, bonecos e até animação em stop motion. Ah, mas esse filme teve CG sim! E quando teve, eu diria que foi propositalmente (ou quase) “mal feito”, justamente para parafrasear nostalgicamente “Os Fantasmas se Divertem”, que naquela época tinha um orçamento para efeitos e tecnologias limitado. Mas acho que isso nunca foi um problema para Burton, que é fã de Filmes B de baixo orçamento, que possuem essa linguagem de “efeitos caseiros”.

Fotografia ilustrativa da Cena de Dança do segundo filme de Beetlejuice

Não poderia deixar de comentar sobre a trilha sonora dos filmes. Feito pelo incrível Danny Elfman, que fez parceria com Tim Burton em vários outros filmes como, “O Estranho Mundo de Jack” (1993), “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005) e os dois filmes do Beetlejuice. Logo na primeira sequência do segundo filme, voltamos nostalgicamente para o início do primeiro filme, com a vista aérea da cidade e a trilha ritmada que gera um estranho desconforto. As escolhas das trilhas musicais, em ambos os filmes, foram certeiras para deixá-los com um tom meio cômico burlesco, como a cena icônica do primeiro filme em que a família, possuída pelos fantasmas dos Maitlands, performa uma música do Calipso. No novo filme também acontece uma cena parecida, todos possuídos por Beetlejuice dançando e cantando “MacArthur Park” de Richard Harris.

Acho que já deu para perceber que eu gosto muito de Beetlejuice e poderia ficar mais um bom tempo detalhando e trazendo aspectos comparativos dos filmes. Ao meu ver, “Os Fantasmas Ainda se Divertem” agradou o público que já estava familiarizado com o filme antigo e com certeza deve ter surpreendido quem nunca ouviu falar sobre o Beetlejuice. 

Apesar de fazer, mais ou menos, 10 anos que assisto ao primeiro filme, toda vez que revejo, encontro algo novo ou percebo algo em outra perspectiva. Tenho certeza que ainda tenho muito para encontrar e descobrir revendo “Os Fantasmas Ainda se Divertem”!

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