Histórias, nossas aliadas.

   04/01/2020  |     Anna Laura Neumann

Começo esse artigo com um convite. Por favor, tente imaginar o cenário que vou descrever nas palavras seguintes: você está entrando em um supermercado, com pressa. Na lista de compras estão alguns itens, mas o principal deles é o seu shampoo. Você precisa lavar o cabelo hoje e sabe que não sobrou mais nenhuma gota do seu em casa. Rapidamente você encontra a prateleira dos shampoos e então começa a percorrer os olhos através das estantes. Quantas opções você encontra? Quantas marcas? Quantos tipos diferentes? Cabelo seco, cabelo com oleosidade, cuidado com progressiva, tingimento, mais brilho, mais sedosidade. Qual escolher? São tantas alternativas que os sentimentos que surgem logo depois são ansiedade e frustração.

Obviamente esse cenário em específico não se encaixa para todas as pessoas que leem esse artigo. Algumas possuem uma marca preferida e um tipo já previamente selecionado (mas aposto que até encontrar algo que você já tinha em mente leva um certo tempo) e existem aquelas que pegam qualquer um mesmo. Para as últimas, aposto que existem outros segmentos que podem causar a mesma confusão: desodorantes, sabões em pó, queijos?

Um dos pontos centrais do livro “Paixão e significado da marca” de Arthur Bender é o quanto a nossa vida moderna nos proporciona um vasto mundo de opções, o quanto isso é maravilhoso, mas também desesperador. E eu tenho outro exemplo disso, vindo de um experimento que fiz por conta própria há alguns dias, sem nenhum caráter científico.

Eu tinha um compromisso às 14 horas na cidade vizinha à minha. Saí de carro às 13h30 e nesse exato momento percebi que o rádio não estava na estação que eu costumo ouvir. Já me irritei de cara e estava pronta para começar o processo de sintonizar para ouvi-la, quando cheguei a conclusão que não, eu não ia mudar. Eu ia ouvir essa mesmo para ver o que me esperava.

Era uma emissora da minha região, de cidade pequena, interior, com um perfil bem popular. Ouvi com atenção tudo o que ela tinha para me falar até às 13h50, momento em que estacionei o carro no meu destino. E como eu agradeci por ter chegado, afinal, eu havia acabado de viver uma experiência que me assustou profundamente: foram 20 minutos, VINTE MINUTOS, de falatório ininterrupto. Nesse tempo todo, consegui ouvir apenas 1 música e meia, ambas sem conexão de estilos, mas isso é outro assunto. Além delas, eu ouvi propagandas, os famosos spots.

Cada propaganda tinha alguns segundos apenas, com um texto lido com muita, mas muita rapidez pelo radialista ou até mesmo por outras vozes. Sabe aquele aviso que aparece depois de uma propaganda de medicamento na TV? Mais ou menos isso. Eu tentava me concentrar, juro, mas era impossível. Em um determinado momento eu percebi que eles tentaram me vender, em menos de 30 segundos, refrigerante, ração de cachorro, local para chapeação de carro e um restaurante que não lembro o que servia. Ouvir telefone? Decorar endereço? Nem pensar! Não lembro nem das marcas! A rádio não se conectou comigo, as marcas não se conectaram comigo. Elas apenas martelaram minha cabeça por 20 minutos. E olha que nos dias atuais, ter 20 minutos da atenção de alguém é muita, mas muita coisa.

“Já entendi Anna! Tu trabalha com Marketing Digital e por isso vai dizer que a mídia tradicional já não funciona mais!”

Não é aí que quero chegar. Bem pelo contrário: abra seu Facebook agora, role o feed do seu LinkedIn ou dê uma olhadinha na quantidade de novas stories do seu Instagram. Como é possível conversar com alguém ali? Como uma marca pode conquistar seu espaço, ter a atenção do seu público, num espaço tomado por uma enxurrada de informações? Mais uma vez é o choque do mundo em que vivemos hoje: temos acesso a tudo e ao mesmo tempo não temos acesso a nada. O que sobra são cérebros lotados de informações inúteis ou inacessíveis.

“Ok Anna, agora eu entendi. Tu está querendo dizer que a Publicidade morreu e que não adianta mais tentar anunciar uma marca, serviço ou produto. Certo?”

Errado! O ponto que quero chegar aqui é: nosso mundo está soterrado de informações. É informação que não acaba mais, por todo lado. Como se diferenciar então? Como conseguir atenção? Algumas pessoas já devem estar prevendo onde vou chegar: histórias. Sim, são elas que ainda nos conectam, que atraem nossa atenção, que nos fazem parar de rolar o feed enlouquecidamente para de fato ler alguma informação.

E foi isso que aconteceu após a minha experiência com a estação de rádio. Subi no prédio onde seria a minha consulta e enquanto eu esperava na sala de recepção, abri meu Facebook. Fui rolando e rolando, até me deparar com um post da página Humans of New York (é maravilhosa, fica a dica). Eu parei, li, me emocionei e compartilhei. Eu me conectei. Por que? Porque era uma história e histórias tem esse poder sobre os seres humanos, mesmo esses cheios de ansiedade e falta de tempo nos quais nos transformamos.

Quer outro exemplo? Há alguns dias fiz um post para um dos clientes da Âme no Facebook. Foram mais de 1000 curtidas, nenhuma reação negativa e mais de 20 mil pessoas alcançadas.

“Já sei! Era um vídeo! E tu patrocinou! Deve ter gasto uma grana!”

Não. Era uma foto, com um texto super longo (7 parágrafos, 7 PARÁGRAFOS), que não foi impulsionado, zero reais gastos, 100% orgânico. O segredo? Histórias!

São elas, as histórias, nossas aliadas para encarar um mundo tão sobrecarregado e cansado, com pessoas aflitas com tantas informações e carentes de conexão. São as histórias que conectam marcas e pessoas, no rádio ou nas Redes Sociais.

Anna Laura Neumann

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